Como é amplamente conhecido e difundido, a cirurgia bariátrica provoca rápida perda de peso, principalmente no primeiro ano. Esse emagrecimento acelerado implica mudanças significativas na autoimagem e autoestima do paciente.
Mas como os pacientes lidam e reconstroem essa nova imagem no pós-operatório? Ainda há pouca evidência científica sobre o tema na literatura. Tem-se muito a investigar, portanto, sobre a relação entre imagem corporal e redução drástica de peso.
Vamos começar por definir imagem corporal. Trata-se de uma opinião interna e subjetiva sobre nosso próprio corpo. É a figuração do corpo humano formada mentalmente, ou seja, o modo pelo qual o corpo é representado para o indivíduo. E, psicologicamente, como é vivenciado por ele.
O desenvolvimento da nossa autoimagem ocorre gradualmente, por meio de informações recebidas da infância ao desenvolvimento definitivo, que se verifica, geralmente, na adolescência.
“Ter emagrecido para alguns pacientes não significa ter uma imagem corporal positiva”
Muitos fatores levam o indivíduo a se relacionar positiva ou negativamente com o seu corpo.
No processo de emagrecimento proporcionado pela cirurgia bariátrica, pessoas que se relacionavam mal com o próprio corpo (autodepreciação e constrangimento) – e que no passado enfrentaram insultos, bullying, autoimagem negativa e referências de baixo valor –, podem ter maior dificuldade para perceber sua mudança corporal. Dessa forma, estarão bem mais magros, mas continuarão a se sentir desconfortáveis com o próprio corpo.
Mesmo as pessoas que se relacionavam bem com a sua imagem corporal, podem ter dificuldade de adaptação e de consciência corporal a partir do rápido emagrecimento.
Esse processo de adaptação corporal se verifica por intermédio de exercícios com fotos dos pacientes, registros visuais da sua imagem no espelho, do toque, enfim, da construção de uma intimidade maior com o próprio corpo. Muitos pacientes chegam ao consultório sem ter espelho de corpo inteiro em casa, por sofrimento causado pela autoimagem! Além disso, do processo de adaptação consta a percepção racional da mudança no tamanho de suas roupas (guarde uma roupa de referência de antes da cirurgia). E mais: também há influência da ressignificação de suas histórias antigas com o próprio corpo, e da resposta afetiva de outras pessoas. Por exemplo, ao ouvir a frase mágica: “Nossa, como você emagreceu!”.
É importante se certificar de que as imagens “real” e a “desejada” após um processo de emagrecimento cirúrgico serão as de um corpo que corresponda às características individuais de cada paciente, para que não haja sofrimento.
A flacidez muscular depois de um processo de emagrecimento é outro fator que pode provocar prejuízos emocionais à imagem corporal de algumas pessoas. Por isso, a atividade física é tão importante! Há que lembrar, a propósito, que as cirurgias reparadoras estarão liberadas somente dois anos depois da cirurgia bariátrica.
A adaptação dessa nova imagem não é um processo fácil para algumas pessoas. Logo, parte delas precisa de acompanhamento psicológico para assimilar “seu novo eu”. E para ser mais feliz e ajustado aos benefícios obtidos com a cirurgia bariátrica, que vão além da saúde, pois também impactam a visão mais ou menos positiva que cada um tem de si.
Drª Bianca Godoy – CRP 65370
Psicóloga do Instituto de Medicina Sallet