A cirurgia bariátrica, tradicionalmente associada ao tratamento da obesidade, tem se destacado como uma ferramenta poderosa no combate a Diabetes Mellitus Tipo 2. A capacidade dessa intervenção cirúrgica em promover a remissão da doença, tem despertado o interesse de pesquisadores e profissionais da saúde ao redor do mundo.
A condição crônica, conhecida como Diabetes Tipo 2, é caracterizada pela resistência à insulina e pela hiperglicemia persistente. Causa modificações no estilo de vida, utilização de medicamentos e, em alguns casos, de insulina, a DT2 pode levar a complicações severas e a uma qualidade de vida reduzida.
“As doenças metabólicas, quando presentes, são fatores muitas vezes decisivos na definição da técnica (cirúrgica), dentre elas, destacam-se a Diabetes Tipo 2, a gente sabe que 80% dos pacientes que têm DT2 ao redor do mundo, são pacientes obesos de indicação cirúrgica ou próximo disso, com índice de massa corpórea de 30 acima” conta o cirurgião Dr. José Afonso Sallet, especialista em cirurgia bariátrica e metabólica. Nos últimos anos, a cirurgia bariátrica se destacou como uma opção eficaz para a remissão da DT2 e recebeu o título de metabólica, quando o foco da cirurgia é em remissão de doenças metabólicas e não somente de obesidade. Existem evidências crescentes que sugerem a normalização dos níveis glicêmicos dias após a realização da cirurgia.
Mecanismos da remissão da Diabetes Tipo 2 após cirurgia bariátrica
A cirurgia bariátrica, inclui técnicas como o Bypass Gástrico, a banda gástrica ajustável e gastrectomia vertical (Sleeve). Estas intervenções podem resultar em perda de peso significativa e mantida. Já a cirurgia da Diabetes ou metabólica, utiliza apenas a técnica Bypass onde acontece o desvio do intestino. Veja algumas das principais alterações causadas pela cirurgia que contribuem para o controle glicêmico:
- Perda de peso e melhoria da sensibilidade à insulina: A redução significativa de peso melhora a sensibilidade à insulina, um fator crucial no controle da glicemia e uma das principais causas da Diabetes Tipo 2. O excesso de tecido adiposo, especialmente a gordura visceral, está associado à resistência insulínica. A perda de peso reduz a inflamação sistêmica e melhora a função das células beta pancreáticas, resultando em uma melhor regulação dos níveis de glicose no sangue.
- Alterações no sistema gastrointestinal e metabólico: Procedimentos como o Bypass Gástrico modificam o trânsito dos alimentos e alteram a absorção de nutrientes. Essas mudanças afetam os hormônios intestinais, como o GLP-1 (Peptídeo semelhante ao glucagon-1), que desempenha um papel crucial na secreção de insulina e no controle da glicemia. O aumento na produção de GLP-1 pode melhorar a resposta insulínica e reduzir a glicemia após uma refeição.
- Modificação na microbiota intestinal: Estudos sugerem que a cirurgia bariátrica pode alterar a composição da microbiota intestinal, o que pode influenciar o metabolismo da glicose e a resistência à insulina. A alteração na microbiota pode ter efeitos benéficos na regulação da glicemia e no peso corporal.
Eficácia da remissão da Diabetes Tipo 2 após cirurgia bariátrica
A eficácia da cirurgia metabólica na remissão da Diabetes Tipo 2 varia entre os indivíduos e os diferentes níveis da doença. No entanto, estudos têm mostrado resultados promissores:
- Taxas de Remissão: Estudos indicam que até 80% dos pacientes com Diabetes tipo 2 podem experimentar uma remissão parcial ou completa após a cirurgia bariátrica. A remissão completa é definida como a normalização dos níveis de glicose no sangue sem a necessidade de medicação para Diabetes, enquanto a remissão parcial pode envolver a redução significativa dos níveis glicêmicos e da necessidade de medicamentos.
- Sustentabilidade da Remissão: A remissão da Diabetes Tipo 2 pode ser sustentada a longo prazo, especialmente quando acompanhada de manutenção do peso e um estilo de vida saudável. Estudos mostram que a remissão pode ser mantida por vários anos, com alguns pacientes mantendo controle glicêmico normal por mais de uma década após a cirurgia
O procedimento cirúrgico também está associado à redução do risco de desenvolvimento de outras doenças crônicas, como hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. No entanto, é fundamental que pacientes e profissionais de saúde considerem cuidadosamente os riscos e benefícios associados. “Você pode ter a remissão da Diabetes, ou seja, a cirurgia pode até ajudar a tirar a medicação necessária. Por quanto tempo vai se conseguir isso, depende da manutenção da perda de peso do paciente, a médio e longo prazo. O que não está em questão, é o benefício que uma remissão, mesmo que transitória, traz para um paciente diabético. Em termos de prevenção das doenças da microcirculação aos órgãos alvos, já tem uma série de estudos que comprovam. Por outro lado, a gente não sai indicando cirurgia para tratar Diabetes de todo mundo, existe um consenso já estabelecido” afirma o médico Dr. Sallet.
É importante ressaltar que a cirurgia bariátrica não é uma solução mágica para a Diabetes, o paciente deve estar disposto a adotar um estilo de vida saudável após a cirurgia, para manter a perda de peso e a remissão da doença. “O tratamento da obesidade e de doenças associadas, passa basicamente por uma proposta e realização de uma mudança comportamental, que pode ser exclusivamente de mudança. Ou seja, uma reeducação de hábitos alimentares e atividade física regular” reforça o Cirurgião Dr. Sallet.
Indicações e Contraindicações
A cirurgia bariátrica não é indicada para todos os pacientes com Diabetes. A decisão de realizar a cirurgia deve ser individualizada e baseada em uma avaliação criteriosa do paciente, considerando fatores como:
- Índice de massa corporal (IMC): Geralmente, a cirurgia é indicada para pacientes com IMC igual ou superior a 35 kg/m² com comorbidades, ou com IMC igual, ou superior a 40 kg/m² sem comorbidades. Calcule seu IMC.
- Controle glicêmico: A cirurgia pode ser indicada para pacientes com Diabetes Tipo 2 que não conseguem controlar a doença adequadamente com medicamentos e mudanças no estilo de vida.
- Comorbidades: A presença de outras doenças, como hipertensão e doenças cardíacas, pode influenciar a decisão de realizar a cirurgia.
Mesmo após a remissão da Diabetes Tipo 2, o monitoramento contínuo dos níveis de glicose e a avaliação regular da saúde metabólica são importantes para garantir a saúde a longo prazo e detectar qualquer ressurgimento precoce da Diabetes. O importante é o paciente trabalhar em conjunto com a equipe multidisciplinar para o controle da obesidade e de outras doenças metabólicas associadas, para haver evolução no tratamento. Consulte sempre seu médico de confiança.