A obesidade infantil e na adolescência tem se tornado uma epidemia global, com consequências graves para a saúde física e mental das crianças e adolescentes. Este fenômeno é influenciado por uma combinação complexa de fatores genéticos, comportamentais, ambientais e sociais. A obesidade infantil começa a ser observada por volta dos 2 anos de idade e pode ser identificada com exames laboratoriais gerais. Além disso, também pode ser diagnosticada pelo Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 35 ou curvas da OMS de Z-score.
Pais com obesidade têm 80% de chances de ter filhos também obesos, esse número cai para 10% para pais com peso normal. A cada 5 crianças obesas, 4 terão obesidade na fase adulta. Por isso, a prevenção da obesidade deve ser iniciada já na fase intrauterina. Estudos mostram que fatores como a nutrição materna, o ganho de peso gestacional e a exposição a substâncias nocivas durante a gravidez podem influenciar significativamente o risco de obesidade no bebê. A adoção de hábitos alimentares saudáveis, controle do ganho de peso e a prática de atividades físicas pela gestante, além do monitoramento de condições como diabetes gestacional, são medidas essenciais para garantir um ambiente intrauterino saudável. Essas práticas não apenas reduzem o risco de obesidade na infância, mas também contribuem para a saúde geral do indivíduo ao longo da vida. “Na verdade, é sabido que a prevenção à obesidade deve ser iniciada logo na pré-concepção. A mulher, quando pensar em engravidar, terá que adequar hábitos de vida e alimentares. É aquilo que chamamos de programação metabólica, que ocorre principalmente na gestação e até os dois anos da infância” explica a especialista em pediatria e nutróloga, Camila Seo.
Além disso, o aleitamento materno é recomendado até os 6 meses de vida e é um alimento poderoso nesse momento. Por ser produzido para atender cada bebê individualmente, ele protege contra infecções e promove saciedade. “O leite materno atuará de forma benéfica desde bebezinho até a fase adulta, ensinando o indivíduo a identificar-se satisfeito ou não. Por isso, a amamentação é um fator protetivo para a obesidade”, acrescenta a especialista Camila Seo.
Após essa fase, iniciam-se os cuidados maternos essenciais relacionados à introdução alimentar. Esta fase desempenha um papel crucial na prevenção da obesidade infantil e na promoção de hábitos saudáveis ao longo da vida. Durante os primeiros anos, as crianças estão estabelecendo suas preferências alimentares, e essa é a oportunidade ideal para introduzir uma variedade de alimentos nutritivos que favoreçam o crescimento e o desenvolvimento equilibrado. Além disso, a introdução alimentar realizada de forma gradual e consciente ajuda a criar uma relação positiva com a comida, incentivando escolhas alimentares saudáveis no futuro. “O papel da família é, de fato, tentar diversificar a oferta para que a criança tenha muitas opções e consiga se identificar com alimentos de mais de um grupo alimentar e não seja aquele adulto que só consegue consumir carboidratos e produtos ultraprocessados, com adição de açúcar. Esse é o grande receio: que a criança forme um paladar extremamente seletivo e só consiga consumir alimentos de calorias vazias, que não trazem benefício nutricional, tampouco ao desenvolvimento e formação dessa criança” conta a cirurgiã Mariane Campos, especialista em aparelho digestivo.
A seguir, exploraremos a prevenção, os riscos e o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes.
Causas da Obesidade Infantil e Adolescente
As causas da obesidade infantil são multifatoriais e envolvem fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Entre os principais fatores, destacam-se:
- Alimentação inadequada: Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sódio, e baixo consumo de frutas, legumes e verduras.
- Sedentarismo: Diminuição da atividade física nas escolas e em casa, devido ao tempo excessivo em frente às telas (televisão, computador, celular).
- Fatores genéticos: A predisposição genética pode influenciar o ganho de peso, mas não é a única causa.
- Fatores socioeconômicos: A obesidade é mais prevalente em grupos sociais com menor renda, que têm menor acesso a alimentos saudáveis e espaços para a prática de atividades físicas.
Riscos
A obesidade na infância e adolescência está associada a uma série de riscos para a saúde que podem perdurar ao longo da vida:
- Problemas de Saúde Física: As crianças e adolescentes obesos estão em maior risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, colesterol elevado e problemas articulares. A gordura abdominal excessiva também pode afetar o funcionamento do fígado e aumentar o risco de apneia do sono.
- Impactos Psicológicos: A obesidade pode levar a problemas de autoestima e saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e distúrbios alimentares. A pressão social e o estigma associado ao peso também podem afetar o bem-estar emocional dos jovens.
- Risco de Obesidade Adulta: Crianças obesas têm uma probabilidade maior de permanecer obesas na idade adulta, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, câncer e outros problemas de saúde graves.
Prevenção
A prevenção da obesidade infantil começa com a promoção de hábitos saudáveis desde cedo. Mas, a educação dos pais e cuidadores sobre nutrição e a importância da atividade física é fundamental. Algumas estratégias eficazes incluem:
Dieta Equilibrada: Incentive o consumo de uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, enquanto limita o consumo de alimentos processados, ricos em açúcares e gorduras saturadas. Use estratégias desde cedo para que as crianças encarem a alimentação de forma lúdica, com participação nas escolhas alimentares, com pratos coloridos de alimentos diversificados e as inserindo no processo de preparação do alimento.
Atividade Física Regular: Promova a prática de atividades físicas diárias, recomendadas em pelo menos 60 minutos por dia. As crianças devem ser encorajadas a participar de esportes e brincadeiras ao ar livre.
Ambiente Familiar: Crie um ambiente familiar que favoreça a saúde, com refeições em família, limite do tempo de tela e incentivo a comportamentos ativos.
Educação e Conscientização: Implemente programas educacionais em escolas e comunidades que enfatizem a importância de um estilo de vida saudável e que desmistificam a obesidade.
Tratamento
O tratamento da obesidade infantil e adolescente é multifacetado e deve ser personalizado para cada indivíduo. As abordagens incluem:
- Modificação do Comportamento: Intervenções comportamentais focadas em mudanças sustentáveis nos hábitos alimentares e na atividade física são essenciais. Isso pode incluir terapia cognitivo-comportamental para ajudar na gestão dos comportamentos alimentares e nas escolhas de estilo de vida.
- Acompanhamento Médico: Consultas regulares com pediatras e nutricionistas são importantes para monitorar o progresso e ajustar o plano de tratamento conforme necessário. Avaliações de saúde contínuas podem ajudar a identificar e tratar precocemente condições associadas à obesidade.
- Suporte Familiar e Escolar: A participação da família e da escola é crucial. Programas que envolvem pais e educadores podem criar um ambiente de suporte que reforce as mudanças no estilo de vida.
- Tratamento Farmacológico: Em alguns casos, quando as intervenções não são suficientes, a medicação pode ser considerada. Esta abordagem deve ser cuidadosamente avaliada e monitorada por um profissional de saúde.
- Intervenção Cirúrgica: Para casos graves de obesidade que não respondem a tratamentos convencionais e apresentam riscos significativos para a saúde, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção. No entanto, este é um tratamento que geralmente é reservado para adolescentes mais velhos e é considerado após a falha de outras abordagens menos invasivas.
Ao adotar hábitos saudáveis desde cedo e beneficiar-se de um suporte adequado, é possível reduzir a prevalência da obesidade e suas consequências negativas. Investir na educação, promover um estilo de vida saudável e oferecer suporte contínuo são passos fundamentais para garantir que as crianças e adolescentes possam crescer saudáveis e prosperar. É essencial que a sociedade se engaje na luta contra a obesidade infantil, promovendo hábitos de vida saudáveis e garantindo o acesso a alimentos saudáveis e oportunidades para a prática de atividades físicas regulares. Quando opções como mudança comportamental não são efetivas, a cirurgia bariátrica ou o uso do balão endoscópico intragástrico podem ser opções após os 16 anos. É importante ressaltar que o tratamento da obesidade infantil e do adolescente é um processo de longo prazo e exige a participação ativa da criança, da família e dos profissionais de saúde.
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