A cirurgia bariátrica ou cirurgia metabólica, procedimento que modifica o sistema digestivo, é um marco na vida de muitas pessoas. Além da perda de peso, ela tem se mostrado uma opção eficaz não só para o tratamento da obesidade, mas também no tratamento de comorbidades associadas, como diabetes tipo 2 e hipertensão. No entanto, o sucesso a longo prazo dessa cirurgia não depende apenas do procedimento em si, mas também de uma mudança significativa nos padrões alimentares dos pacientes bariátricos, exigindo uma nova relação com a comida.
Antes da cirurgia, muitos pacientes lutam contra o sedentarismo e hábitos alimentares que contribuem para o ganho excessivo de peso. Esses maus hábitos alimentares podem incluir porções excessivas, alimentos ultraprocessados, falta de planejamento nas refeições, compulsividade alimentar relacionada a emoções, baixo consumo de nutrientes e dietas radicais. O acompanhamento nutricional é fundamental para o sucesso do processo da cirurgia bariátrica e para uma melhora de estilo de vida. “A obesidade é uma doença crônica e multifatorial. Existem algumas fases da vida nas quais ela pode se desenvolver com uma frequência maior: infância, adolescência e gestação. Quando ocorre o aumento de peso nesses períodos, as células adiposas crescem em tamanho e quantidade, e não desintegram-se mais. Consequentemente, para perder o peso extra adquirido, o paciente faz dieta e essas células apenas murcham. Por não conseguir manter uma dieta restritiva por muito tempo, o paciente volta a comer mais e essas células tornam a armazenar novamente gordura. Assim, cria-se o efeito sanfona” explica Eliane Romantini, nutricionista especialista em bariátrica no Instituto de Medicina Sallet há mais de 25 anos.
O papel do nutricionista em pré e pós-bariátrica é orientar o paciente sobre os alimentos permitidos e aqueles a serem evitados, a quantidade ideal, a importância da mastigação e a importância da suplementação de macro e micronutrientes. Além disso, o especialista também pode auxiliar na identificação e no manejo de possíveis intercorrências nutricionais. “É bastante importante trabalharmos com o paciente conceitos como mastigação, fracionamento e hidratação, algo muito exigido após o primeiro mês, que é quando ele sai daquela dieta líquida e pastosa e começa adentrar de novo na consistência sólida. A maioria dos nossos pacientes não têm o hábito de descansar o talher no prato e estabelecer ritmos alimentares mais lentos, tampouco de mastigar adequadamente. Esses conceitos são simples mas fundamentais para uma melhor adaptação pós-operatória” acrescenta a nutricionista especialista em bariátrica, Ana Beatriz Guiesser.
A Transformação após a Cirurgia Bariátrica
A cirurgia bariátrica impõe restrições físicas à alimentação, o que impõe uma mudança radical nos hábitos alimentares. As principais mudanças observadas após a cirurgia incluem redução de tamanho e o fracionamento das porções, uma mastigação mais cuidadosa, seleção de alimentos mais nutritivos, melhor ingestão de água e a suplementação feita de forma correta. “Um ponto muito importante é a necessidade que a gente vai ter, com um estômago reduzido de tamanho, de comer volumes menores e mais vezes ao dia. O planejamento alimentar orientado irá promover uma perda de peso assistida e segura, garantindo que os nutrientes estejam compondo o plano alimentar de nossos pacientes. O paciente bem orientado não diz ‘ah eu vou comer quando eu sentir necessidade’. Ele aprenderá o que comer no café da manhã, no lanchinho, no almoço e em todas as demais refeições do dia para que tenha um equilíbrio nutricional” conta a especialista Ana Beatriz.
Alimentação Pós-Operatória
Após a cirurgia, a alimentação passa por fases progressivas, adaptando-se à nova capacidade do estômago reduzido. As etapas geralmente incluem:
Dieta líquida: Nos primeiros dias, a alimentação é líquida e coada, com foco em caldos, sucos, água de coco e suplementos nutricionais.
Dieta pastosa: Após alguns dias, a dieta progride para alimentos pastosos, como purês e cremes, para estimular a mastigação.
Dieta semilíquida: A dieta semilíquida inclui alimentos macios e picados, como carnes moídas, legumes cozidos e frutas amassadas.
Retorno à alimentação sólida: gradualmente, o paciente retorna à alimentação sólida, com foco em escolhas saudáveis e equilibradas.
Padrões Alimentares após a Cirurgia Bariátrica
Após a cirurgia bariátrica, a mudança nos padrões alimentares é crucial para garantir a perda de peso eficaz e a saúde a longo prazo. Os novos padrões alimentares geralmente incluem:
Redução do tamanho das porções: Devido à capacidade reduzida do estômago, as porções devem ser significativamente menores. Isso ajuda a controlar a ingestão de calorias e a promover a saciedade com menos alimento.
Foco em Alimentos Nutritivos: A dieta pós-cirurgia é geralmente rica em proteínas, vitaminas e minerais, e baixa em açúcares e gorduras. Alimentos como carnes magras, peixes, ovos, legumes e grãos integrais tornam-se a base da alimentação.
Divisão das Refeições ao Longo do Dia: Em vez de três grandes refeições, os pacientes são aconselhados a consumir várias pequenas refeições e lanches ao longo do dia para evitar a sensação de fome e garantir uma ingestão adequada de nutrientes.
Hidratação Adequada: A ingestão de líquidos é fundamental, mas deve ser separada das refeições para evitar o desconforto e a diluição dos nutrientes. Bebidas sem calorias, como água e chá, são preferidas.
Consciência dos Sinais de Fome e Saciedade: Após a cirurgia, é importante prestar atenção aos sinais de fome e saciedade para evitar a superalimentação e promover uma alimentação equilibrada.
Suplementação Nutricional: Devido à capacidade reduzida de ingestão de alimentos e uma absorção de nutrientes levemente diminuída, muitos pacientes precisam de suplementos vitamínicos e minerais para evitar deficiências nutricionais.
Desafios Pós-Bariátrica
A adaptação aos novos hábitos alimentares após a cirurgia bariátrica pode ser desafiadora. Alguns dos desafios mais comuns incluem:
- Refluxo: A cirurgia, a depender da técnica, pode eventualmente causar azia e refluxo, exigindo ajustes simples na dieta.
- Síndrome de Dumping: caracterizada por sintomas como náuseas, vômitos e diarreia, pode ocorrer após a ingestão de alimentos ricos em açúcar.
- Restrições sociais: A necessidade de seguir uma dieta especial, principalmente no primeiro mês de pós-operatório, pode dificultar a participação em eventos sociais. No entanto, os prazeres gastronômicos devem ser mantidos após a cicatrização cirúrgica, com a devida e correta seleção das melhores preparações.
- Desafios psicológicos: A relação com a comida pode ser complexa e envolve questões emocionais. O suporte psicológico é fundamental para que o paciente se compreenda melhor e com isso possa otimizar os resultados de perda e manutenção da perda de peso em médio e longo prazo.
Estratégias de Adaptação
A adaptação a uma nova rotina alimentar pode ser desafiadora. É comum que os pacientes enfrentem dificuldades para ajustar seus hábitos alimentares e lidar com as mudanças físicas e emocionais após a cirurgia. Algumas estratégias para facilitar essa transição incluem:
Educação nutricional: participar de programas educativos sobre nutrição e planejamento de refeições pode ajudar a fazer escolhas alimentares informadas e saudáveis.
Apoio psicológico: O apoio de psicólogos ou grupos de suporte pode ser essencial para lidar com as mudanças emocionais e comportamentais associadas à cirurgia.
Monitoramento e acompanhamento: Consultas regulares com uma equipe transdisciplinar, incluindo nutricionistas e médicos, podem ajudar a monitorar o progresso e ajustar a dieta conforme necessário.
Além disso, é possível manter uma vida gastronômica rica e prazerosa, com escolhas alimentares saudáveis e equilibradas. Apesar dos desafios, a cirurgia bariátrica traz inúmeras recompensas para a saúde. O mais importante, é o acompanhamento nutricional durante todo o processo, desde o pré-operatório até o pós-operatório. O suporte contínuo e a reeducação alimentar são peças-chave nesse processo de adaptação, ajudando os pacientes a alcançar e manter seus objetivos de saúde e bem-estar a longo prazo. Procure sempre um especialista de confiança.